Não há dúvida de que vivemos numa sociedade individualista, uma sociedade que cultiva o indivíduo, o eu, onde sermos o mais auto-suficientes e independentes possível é considerado o ideal. “Eu não preciso de ninguém!” é dito com orgulho, “Eu estou bem sozinho!”. Sem dúvida que “mais vale só do que mal acompanhado” mas o mais profundo do nosso ser precisa de relação, precisa de se sentir conectado. Isto é absolutamente vital em nós.
O meu trabalho deu-me mais uma prova de que de facto juntos conseguimos muito mais. Os métodos que uso provam-se muito eficazes no alívio do sofrimento emocional e físico alheio mas, sempre que desenvolvi os mesmos sintomas em mim (por exemplo uma dor ou tensão muscular) tornam-se muitas vezes inúteis para aliviar o meu sofrimento. O mesmo sintoma noutra pessoa pode ser neutralizado geralmente facilmente e por vezes em segundos por um terapeuta, mas ele próprio se sente impotente de o fazer a si mesmo, mesmo que esses sintomas sejam os mesmos!
Claro que uma pessoa se pode ajudar a si mesmo por vários métodos, e deve fazê-lo. Deve estudar-se, conhecer-se, resolver as tensões em si. Mas, quando duas pessoas competentes se juntam para fazer estes trabalho, ele torna-se muito mais rápido, eficiente, e até agradável. Todos precisamos uns dos outros.
Isto foi visto ao longo da história várias vezes. Grandes curadores e mestres que ajudavam milhares de pessoas precisavam eles próprios de ajuda quando ficaram debilitados, ou inspiraram-se noutros mestres até descobrirem as respostas em si mesmos. Há de facto algo de mágico e de muito potente na interacção das pessoas. Todos dependemos uns dos outros. Sem dúvida que o todo é maior do que a soma das suas partes. Por isso digo que realmente precisamos uns dos outros, quer queiramos quer não. Podemos iludir-nos o que quisermos de que somos auto-suficientes e independentes, mas este estado é de facto impossível. Precisamos de sentir uma conexão profunda com o todo. Mesmo que de facto fisicamente estejamos sozinhos, precisamos de sentir comunhão profunda com o todo. É disto que estamos constantemente à procura.
É como se uma célula do corpo de repente pensasse que não precisava das suas vizinhas nem do resto do corpo, que podia viver independente do organismo, “à sua vontade”. Se calhar é isto que é o cancro. Se calhar a nossa sociedade sofre exactamente do mesmo mal, da falta da realização desta interconexão profunda e do vivermos esta conexão todos os dias. Falta voltarmos a uma cultura do todo, do organismo que é o todo e do qual somos todos, absolutamente todos, partes sincronizadas com ele.