Seguindo então o tema do blog anterior, vamos continuar a explorar como a ativação do que chamei do nosso “Sistema de Alarme” (ou de Segurança, de Apego ou de Defesa, termos que vou usar de forma intercambiável) leva ao desenvolvimento de sintomas como dores físicas e reacções emocionais ou psicológicas indesejáveis, e à degradação da nossa qualidade de vida – aliás, eu acho que é a causa para TODOS os nossos sintomas!
Vamos também começar a explorar como curar estes sistema de apego, e como esta cura leva à suavização e dissolução desses mesmos sintomas, e ao melhoramento significativo da nossa qualidade de vida. Dá um pouco de trabalho…mas faz-se.
A Origem das Dores
Como de certo sabem, e como tenho documentado (se bem que não tanto como poderia), a terapia bioenergética, aparentemente “mágica” ou “misteriosa” que pratico, consegue o alívio, sistemático e consistente, das mais variadas dores físicas, musculares, disfunções orgânicas, distúrbios emocionais e psicológicos, independentemente de quem a procura ou da natureza das suas queixas. Ou seja, em cada sessão, e através do desfile das mais variadas pessoas que me procuram, o fenómeno é sempre o mesmo: em 99% dos casos o cliente sai duma sessão comigo substancialmente ou totalmente mais leve e aliviado das dores ou queixas emocionais ou nervosas de que se queixava no início da sessão. Não conheço nenhuma outra terapia que tivesse estudado ou experimentado (e quem me dera que existisse!) que consiga os mesmos resultados, com a mesma consistência, universalidade, eficácia e replicabilidade, e é por isso que chamo a isto uma Ciência e uma Engenharia (Humana), no verdadeiro sentido da palavra.
Mas como é isto possível? Como pode algo, uma mesma técnica aparentemente tão insondável, tratar sintomas tão diversos como doenças orgânicas, raivas, depressões ou dores musculo-esqueléticas com a mesma eficácia e profundidade? A razão é simples: porque ela trabalha com “aquilo” no ser humano – um sistema – que controla e determina todas as suas reacções, não importa se é uma dor no dedo grande do pé, falta de ar, um aperto nervoso no peito ou na garganta, ou uma má relação com um familiar ou esposo. A terapia lida directamente com o sistema responsável pela activação e inflamação de dores e mal-estares no corpo e mente humanas.
E que sistema é este? Já podem adivinhar penso eu! Sim, o “Sistema de Alarme” (ou de Segurança ou Apego), que faz parte do nosso “computador central” por assim dizer, que é o que controla todo o nosso organismo: fisiologia, emoções, processos mentais e físicos ditos automáticos.
O Computador Central
Se me conhecem já sabem ao que me refiro quando falo nele. Se calhar já leram sobre este “computador central” no meu livro, ou na Primeira Parte deste artigo. Basicamente este sistema de defesa monitoriza e reage à percepção do nosso sentido de segurança ou protecção: se nos sentimos seguros, protegidos, “vistos”, com tudo sob controlo – se sentimos, em suma, que a nossa sobrevivência está garantida -, então o sistema está calmo e desactivado, e o organismo (mente e corpo) funciona às mil maravilhas. Se, por outro lado, a nossa sobrevivência é sentida, por este sistema, como estando ameaçada de alguma forma, então tudo é mobilizado de forma diferente. É activada em nós uma série de reacções de que algo está mal (stress), uma insegurança, uma tremura. Tornamo-nos então reactivos emocionalmente (à mais pequena coisa, e sem saber bem porquê, muitas vezes), e aí podem começar a aparecer (se não tratado este estado de tensão) todo o tipo de queixas e sintomas físicos e emocionais, desde tonturas e dores de cabeça, a apertos físicos ou disfunções orgânicas. Tudo isto é fruto da activação do Sistema de Segurança.
A Auto-Cura
Como desactivar então este Sistema de Segurança? Esta é a questão fundamental não é? Se a Fonte de todos os nossos problemas, como estou a postular e acredito, é este Sistema de Alarme, que “dispara” mal nos sentimos de alguma forma inseguros ou ameaçados (quer tenhamos total consciência disso, quer não), então seria ótimo saber como desactivá-lo (ou não o ter tão activo permanentemente) para deixarmos de ter esses problemas, correcto?
Bom, primeiro gostaria de frisar que, no pensamento convencional de hoje em dia, é muito pouco comum sequer pôr em hipótese a ideia de que uma doença ou disfunção física possa ter origem em distúrbios emocionais (stress), mas de facto é isso que eu encontro uma e outra vez, todos os dias, no meu consultório. Depois de tratar centenas de casos eficazmente ao longo de mais de 10 anos, não tenho dúvidas: é o stress e tensão nervosa no organismo (os chamados “problemas de vida” da pessoa) que causam todos os sintomas de que os meus clientes se queixam, físicos ou não-físicos. Isto porque, mal conseguimos “acalmar” ou desactivar esse sistema de alarme em alerta, os sintomas desaparecem naturalmente e “como por magia”. É bastante fantástico, e inacreditável para a abordagem convencional de hoje em dia. No entanto, é a realidade, e vai ser aceite como a mais óbvia das verdades no futuro, à medida que o ser humano for evoluindo.
O que provoca a ativação do sistema de alarme e a manutenção de um estado de tensão e stress no organismo (que depois origina sintomas e doenças) é, na essência, uma percepção de ameaça à sobrevivência e manutenção do organismo.
Mas uma coisa é ter a vantagem de poder receber estes tratamentos, em que anos e anos de pesadas camadas de tensão nervosa e emocional são rapidamente dissolvidas e removidas com os métodos super-rápidos, não-invasivos e revolucionados da BIT. Mas, e se não temos acesso a estas terapias – que é a grande maioria de nós – o que fazer? O que podemos fazer para acalmar ou resolver a activação exacerbada de um sistema de alarme inflamado e reactivo, de forma a termos uma vida muito mais em paz e livre de sintomas o mais possível?
Saber Dar-Nos Segurança A Nós Mesmos
Em primeiro lugar teremos que perceber, o mais claramente possível, como funciona este nosso Sistema de Alarme, e como ele provoca os problemas no nosso corpo e mente (que é o que estamos a fazer ao ler estes textos). Como é uma mudança de paradigma profunda (entender que sintomas físicos, por exemplo, são causados por problemas emocionais, é um desafio para muita gente), temos que passar algum tempo a pensar sobre o assunto, a interiorizar e a verificar a realidade do mesmo. Depois será então mais fácil aplicarmos estas ideias. Se entendermos o que se passa, mais facilmente temos controlo sobre as coisas.
Ora, se o sistema de alarme dispara como resposta à percepção de perigo ou insegurança, a solução passará então por cultivar de novo uma sensação ou percepção de segurança e de não-perigo.
Quanto mais e melhor fizermos isto, mais o “termóstato” do sistema de alarme (aquele que “dispara” quando a “temperatura” da percepção de perigo sobe) vai baixando, e é activado menos frequentemente, e de forma menos intensa. Saberemos que estamos no bom caminho se nos começarmos a sentir gradualmente mais calmos, com mais energia (pois o sistema de alarme activado “rouba-nos” a energia vital do corpo ao colocar o corpo e a mente em permanente estado de tensão e alerta), e a desfrutar muito mais da vida, naturalmente. É o que os meus pacientes reportam, e é bastante fantástico. Mas tem que ser experienciado e posto em prática por cada um de nós para ser verificado que de facto é assim na nossa realidade.
Uma Mudança de Paradigma
Assim, e novamente, tem que se entender muito bem como o Sistema de Alarme funciona, como é ele que provoca as dores e reacções emocionais automáticas e fortes no nosso corpo e mente, para depois sabermos “re-ensiná-lo” a estar menos activado. Para isto penso continuar a escrever para clarificar estes e outros aspectos de funcionamento desta nossa “máquina”, pois quanto mais se pensar sobre isto, e se entender, mais depressa se dará o “clique” de entendimento que nos fará perceber como aplicar este conhecimento para o nosso bem-estar. Isto porque, dependendo do estado do sistema de cada pessoa individualmente, poderá ser uma tarefa mais ou menos fácil relaxar o sistema de alarme. Certas pessoas podem até melhorar muito rapidamente, com uns pequenos ajustes e entedimentos, enquanto que para outras – quiças a maioria – pode ser uma tarefa bem mais dura, que irá precisar de algum trabalho, foco, consciência e dedicação (principalmente no inicio).
Mas a essência é esta: nós podemos certamente ir de termos um sistema de alarme rotineiramente activado, que dispara por tudo e por nada, ansioso e stressado, e com o ocrpo e mente cheios de sintomas e debilidades, para termos um sistema calmo, confiante, sereno, e por isso muito menos reactivo, mais “bem-disposto”, em Paz, e sem as ditas “inflamações” do corpo e da mente (dores e sintomas). Fazemos isso aprendendo a viver, mais e mais, como uma pessoa segura em vez de insegura (aqui ajuda perceber o que significa ser seguro ou inseguro em termos da Teoria do Apego falada anteriormente), aceitando e percebendo que a nossa vida e bem-estar dependem, de forma última, somente de nós mesmos, que qualquer reacção negativa dentro de nós é a tal “criança interior” a reclamar (as feridas do sistema de apego ansioso ou ferido a ficarem activas). Precisamos aprender a agir e a estar na vida de forma a “contrariar” estas emoções e reacções automáticas do sistema de apego, digamos assim, re-ensinando-o assim, pelas nossas próprias ações, escolhas, e atitudes internas, de que está tudo bem e sob controlo, mostrando-lhe que as feridas do passado já passaram realmente, que agora sou um adulto e que posso cuidar de mim, sobrevivo, e que me posso dar assim toda a segurança de que o meu corpo precisa. Não é fácil ou imediato em muitos casos, mas consegue-se, com dedicação, paciência e persistência.
Mais uma vez, eu mostro isto ao meu corpo e mente pelas minhas acções e atitude. É uma nova mentalidade, uma outra forma de viver e agir, com maturidade e auto-responsabilidade, segurando-me nos meus próprios pés por assim dizer. Sim, o sistema ainda vai activar (muito ou pouco, dependendo da intensidade das feridas que temos), mas o processo de cura é o mesmo. Depressa ou devagar, mas de forma certa, o sistema vai-se apercebendo que nós estamos aqui para ele, que sabemos cuidar dele, que sabemos segurar-nos pelos nossos prórpios pés, e acalma naturalmente. Como ele está SEMPRE a monitorizar tudo o que se passa dentro e fora de nós, e reage instintivamente, ao sentir como agimos com calma e sem medo, ele começa a aperceber-se que não estamos em pânico, e que sobrevivemos às situações e mantemos a calma, e isso acalma-o. É esta dinâmica, o cultivo desta independência ou maturidade emocional, digamos assim, que faz toda a diferença na nossa saúde, bem-estar, e qualidade de vida a longo prazo, e a todos os níveis.
Da minha parte, procurarei escrever mais para clarificar certos pontos e continuar a explicar as nuances dos mecanismos de funcionamento e cura deste sistema que é o responsável por tanta da dor nas nossas vidas, explicando mais sobre a Teoria de Apego e outras técnicas que podem ajudar a soltar este sistema. Não temos que viver vítimas dele (se bem que até agora não sabíamos nada sobre ele), pois o “milagre da transformação” é possível quando entendemos, cada vez melhor, como tudo isto funciona. É o que vejo e ouço todos os dias dos meus pacientes transformados, e é algo incrível de ver. Quando se “solta” este sistema de segurança que tomou conta dos nossos nervos e organismo, tudo o resto vai ao sítio.
6 comentários a “A Teoria do Apego e o Nosso Sistema de Alarme – Parte II – O Começo da Cura”
Só de ler a minha dorzinha das minhas costas apareceu, e até a minha respiração parou por diversas vezes!
Tens toda a razão, este sistema de alarme é terrível, dispara a mínima coisa. Dar aconchego a nossa criança interior é fundamental.
Foi fantástico sentir como ao longo da leitura o meu corpo se alterou, até que apareceu a sensação “não passou de um susto, relaxa”.
Obrigado pelo comentário Alain! É de facto incrível como simplesmente ler sobre isto pode despertar estas reacções e memórias todas no corpo (em particular essa dor de costas, ligada como sabemos a stresses antigos). É o tal sistema de alarme a disparar! Fantástico.
Transcender este sistema de alarme, estes medos e inseguranças, é uma tarefa muitas vezes monumental para muitos de nós, mas é fundamental, acredito, para nos tornarmos realmente livres. Qualquer pessoa que se tornou livre no sentido mais profundo da palavra conseguiu “controlar” este sistema de defesa em si, de sobrevivência, e assim transcender o medo, que nos domina tão fortemente e que vem de dentro. Abraço e uma ótima continuação!
A ciência e a arte que é a terapia fantástica que o Helder pratica!
O que somos? Como funcionamos?
Na essência toda a matéria é pura energia, num vácuo, daí a cura instantânea que o Helder pratica.
Trata-se de uma terapia que nos leva a pensar sobre a relação intima: mente/corpo, (provada por experiências científicas) e que o movimento subjetivo interno é mais poderoso que o físico externo.
Bem haja!
Há 20 anos que a minha filha estava muito doente com depressão crónica e ao fim de duas sessões já deixou um dos comprimidos, fez 4 sessões esta com muito mais energia e feliz, andava sempre apática, não vivia, sobrevivi, vai continuar até estar completamente livre desse bloqueio. Bem haja quem me indicou este terapeuta. Fenomenal.
Fantástico, sem dúvida! Tenho consciência que todas as nossas dores e até dificuldades de vida têm origem na falta de amor e segurança durante a nossa infância. O difícil é pôr em prática a auto-cura!
Difícil sim, mas não impossível 😉 Bem-haja e tudo de bom.